Novo chefe da Polícia Civil foi preso no caso Marielle um dia antes do crime
No último domingo, 24 de abril, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Rivaldo Barbosa, foi detido pela Polícia Federal (PF) em sua residência, localizada num condomínio no bairro de Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro. Sua prisão ocorre no contexto de uma complicada trama de eventos que começou com sua nomeação como líder da Polícia Civil em 8 de março de 2018, oficializada cinco dias antes do chocante assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. Esta nomeação foi feita durante um período de intervenção federal na segurança do estado, sob a administração do general Walter Braga Netto, que, mais tarde, transicionaria para uma carreira política, ocupando postos significativos no governo de Jair Bolsonaro.
Curiosamente, a indicação de Barbosa não foi bem recebida pela área de inteligência da Polícia Civil, que a contraindicou. No entanto, Braga Netto insistiu em sua escolha, garantindo a nomeação do delegado. Este momento marca apenas o início de um conjunto de eventos que levantarão questões sobre as verdadeiras intenções por trás de decisões e ações tomadas durante e após a intervenção federal no Rio.
Em um dos seus primeiros discursos como chefe da Polícia Civil, Barbosa enfatizou a luta contra a corrupção como uma de suas principais metas, uma promessa que agora soa irônica diante das acusações que enfrenta. Estas incluem alegações de envolvimento em esquemas de dissimulação de informações cruciais relacionadas ao caso Marielle Franco. Além disso, sugere-se que ele possa ter recebido subornos para obstruir a investigação do assassinato da vereadora, uma acusação respaldada por um relatório de 2019 e declarações de Ronnie Lessa, um ex-policial militar implicado no caso.
Barbosa é acusado ainda de produzir pistas falsas durante a investigação. Um dos episódios mais notáveis envolve a difusão de uma informação equivocada que levou as investigações a seguir por um caminho que posteriormente se revelou sem fundamento. Outras ações suspeitas incluem reuniões com parlamentares e declarações à imprensa, nas quais Barbosa insistia que as investigações estavam progredindo na direção correta.
Sua formação como bacharel em Direito, sua atuação como professor e sua apresentação nas redes sociais contrastam fortemente com o atual cenário de acusações e suspeitas que o cercam. O caso também destaca declarações de figuras políticas, como Marcelo Freixo, presidente da Embratur, que ressaltam a decepção e a surpresa diante da prisão de Barbosa e o significado disso para a compreensão do estado do Rio de Janeiro.
Ao longo dos anos, a relação de Barbosa com o caso Marielle Franco tem sido complexa e contraditória, refletindo as dificuldades e desafios de lidar com crimes de grande repercussão e impacto no tecido social e político do Rio de Janeiro. Seu compromisso público com a resolução do caso, expresso logo após os assassinatos, parece agora ofuscado pelas acusações e investigações que sugerem um papel muito diferente do inicialmente imaginado.
Este episódio ressalta não apenas os desafios enfrentados pelas instituições e autoridades no Rio de Janeiro mas também as consequências de uma rede intricadamente entrelaçada de poder, crime e política que ainda espera por resolução e justiça.