Delegado preso assumiu chefia da Polícia Civil um dia antes do caso Marielle
No último domingo, 24, a Polícia Federal deteve Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, uma nomeação que ocorreu em 8 de março de 2018 pelo comando da intervenção federal na segurança pública do estado, liderada pelo general Walter Braga Netto. Tal evento se deu apenas alguns dias antes do trágico assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes. Apesar da contraindicação inicial da área de inteligência da Polícia Civil, a nomeação de Barbosa prosseguiu, um fato salientado durante as investigações atuais da Polícia Federal.
Criando um certo contraste em sua trajetória, o general Walter Braga Netto, designado pelo ex-presidente Michel Temer para a intervenção na segurança do Rio, transitou da carreira militar para a política, chegando a ocupar posições de ministro chefe da Casa Civil e ministro da Defesa nos anos seguintes, sob o governo de Jair Bolsonaro, até visar a Vice-Presidência em 2022. Atualmente, Braga Netto figura entre as pessoas investigadas por uma suposta participação no planejamento de um golpe de Estado.
Por sua vez, durante o momento de sua posse, Rivaldo Barbosa pontuou a luta contra a corrupção como um de seus objetivos prioritários, permanecendo no cargo até dezembro de 2018. No entanto, sua gestão acabou imersa em polêmicas, incluindo acusações de ter barrado as investigações do caso Marielle Franco, além de supostas práticas de obstrução e recebimento de propina, conforme apontado em um relatório de 2019. Desmentindo tais acusações, Barbosa agora enfrenta novos desafios com as investigações federias que trazem à tona seu possível envolvimento mais profundo nos eventos em torno do caso não solucionado.
Durante sua administração como chefe da Polícia Civil, ressaltam-se ações que possivelmente buscaram desviar a atenção das investigações, seja através do fornecimento de informações falsas a importantes agentes envolvidos na apuração do caso ou por meio de declarações à imprensa sugerindo um progresso inexistente nas investigações. Mesmo com a emergência dessas questões, Barbosa, graduado em Direito e atuante como professor, foi uma figura central no imediato pós-assassinato de Marielle Franco, junto ao presidente da Embratur e ex-político carioca, Marcelo Freixo, corroborando a complexidade e o entrelaçamento de interesses que marcaram esse período da história do Rio de Janeiro.
Ao final, a prisão de Rivaldo Barbosa ressignifica aspectos da política e da segurança pública carioca nos últimos anos, reacendendo debates sobre justiça, governança e a procura incessante pela verdade e pela responsabilização nos crimes contra Marielle Franco e Anderson Gomes.