‘Grupos criminosos no comando’: CV e PCC dominam bairros de Manaus e bloqueiam candidatos; veja vídeo
Manaus – A luz do dia revela um cenário assustador em Manaus. Durante a campanha eleitoral, facções criminosas assumem um papel influente no processo democrático, impondo regras e controlando quem pode circular em áreas sob seu domínio. A cidade, estratégica devido à proximidade com rotas internacionais de tráfico de drogas, transformou-se em um campo de batalha onde o poder do voto é manipulado por criminosos, limitando a liberdade de escolha dos eleitores.
David Almeida, atual prefeito e candidato à reeleição, relatou um episódio preocupante: ele foi impedido de gravar sua campanha no conjunto habitacional Viver Melhor, controlado pela facção Comando Vermelho (CV). A mensagem é clara: as facções estabeleceram seu próprio “código eleitoral”, decidindo quem pode entrar nas comunidades e em quais condições.
Nos bairros periféricos, como o Jorge Teixeira, na Zona Leste de Manaus, os candidatos políticos não têm liberdade de movimentação sem antes “negociar” com as facções dominantes. Um exemplo claro dessa realidade foi quando fogos de artifício, sinal de alerta dos traficantes, interromperam a gravação de campanha do candidato do partido Cidadania, seguido de uma abordagem direta: “Você não pode fazer campanha aqui, só o nosso candidato”.
O Domínio das Facções na Capital do Amazonas
Com o rompimento do pacto entre as duas maiores facções do país — Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) —, Manaus se tornou um epicentro da guerra pelo controle das rotas de tráfico de drogas, tornando-se uma área de expansão do CV. Mais de 80% das áreas periféricas da capital são dominadas por essa facção, que utiliza o período eleitoral para aumentar sua influência. Em troca de apoio político, oferecem controle sobre áreas eleitorais estratégicas, desde que os candidatos atendam a suas exigências, que podem incluir a pavimentação de ruas ou a entrega de quantias em dinheiro.
Em áudio captado em 2020, um dos líderes do CV no Amazonas, Lenon Oliveira do Carmo, conhecido como Bileno, revela como os acordos são firmados. Ele exigia, em troca do apoio eleitoral, a pavimentação de vias e a instalação de poços artesianos em favelas dominadas pelo grupo. E, claro, uma quantia considerável de dinheiro: “Preciso de um ‘faz me rir’, pede para eles adiantarem 40 mil reais”, declarou.
A Fragilidade do Estado e a Expansão das Facções
A penetração do crime organizado nas campanhas eleitorais de Manaus mostra a fragilidade do Estado em áreas onde o controle do tráfico é total. Em bairros como o Coliseu, na Zona Leste, a presença do poder público é praticamente inexistente. A polícia só entra esporadicamente, e os moradores vivem sob o regime dos traficantes. Até o direito de votar e expressar preferências políticas foi sequestrado. Nas redes sociais, eleitores são instruídos a apagar fotos de candidatos não apoiados pelo tráfico, e, em alguns casos, idosos são coagidos a não participar de eventos políticos.
Para muitos moradores de Manaus, o processo eleitoral já não reflete a livre escolha. A presença de candidatos é vetada em áreas dominadas por facções, e as campanhas transformam-se em um teatro de negociações com criminosos que, ao controlar territórios e pessoas, também controlam o futuro da cidade.
O Futuro Incerto de Manaus
Com o crescimento das facções, a democracia em Manaus está ameaçada. As eleições, um pilar fundamental da sociedade livre, estão sob a constante sombra de traficantes e grupos criminosos que transformaram bairros inteiros em suas fortalezas. A pergunta que ecoa entre eleitores, políticos e especialistas é: como reverter essa realidade em que o voto, um dos direitos mais sagrados, foi sequestrado pelo crime organizado?